Ultima Cena


A ÚLTIMA CENA

Um livro de Miguel J. das Neves.

Ela olhou para os lados e depois para cima queria ter certeza que não havia uma cãmera para flagá-la, quando teve certeza disso sorrateiramente arrancou o rolo de papel higiênico de seu suporte e o colocou na sacola, mas antes disso enrolou uma boa parte e passou nas partes genitais, ela estava em um banheiro, quando olhou para o papel o mesmo estava tingido de vermeho, ela estava menstruada, com mais um bom pedaço de papel improvisou um moldes, não que tinha sido pega de surpresa é que não tinha grana para comprar.Então escutou lá fora vozes, lembrou que logo estaria entre eles, levantou-se do vaso, espreguiçou-se toda, se alongou, fez umas caras feias, estava se preparando, ela iria apresentar para uma platéia, eles a esperava. Ela sabia que seria sua última chance,quando abriu a porta este simples gestos fez ela cambalear ai uma leve dor no estômago lhe avisava que há dois dias ela não se alimentava. Mas ela precisava fazer aquele show, pois ela ganharia bem, seria a tábua da salvação. Quando saiu do banheiro deu de cara com ele,ele estava a sua frente, figurino desbotado e um olhar vago no tempo, ela então percebeu que ele também estava na mesma situação que ela. Sem falar nada ambos se dirigiram para o palco. As luzes se apagaram e quando acenderam eles estavam lá olho no olho, nada neste momento existia a não ser o momento presente, as falas, os movimentos, tudo num ciclonismo de dar inveja ao universo, a fome ficou para tráz nada mais importava a não ser as cenas seguintes. Quando terminaram, veio os aplausos,e logo o velho silêncio de sempre, logo ele veio para conversar com eles, ele era taciturno, gordo e fumava. Ela pensou que iriam receber naquele momento, então ele meteu a mão no bolso e entregou um cheque, um cheque cruzado, e o pior a metade do cache... dizem que o diabo não da esmola, se da é porque o troco é mais caro. 23:00, duas sombras perambulam pelas ruas da cidade, dormir aonde? ninguém aceita cheque de estranhos, fazer o que? Dormir na rua. Eles improvisam um cama na praça central da cidade, tem luz o perigo seria menor. Logo encosta uma viatura, descem do carro, nme pedem licença, vira tudo, a maquiagem se espatifa no chão, acabou o último pedacinho de lápis colorido. Ninguém fala nada, terra de lobos , gato não mia. Logo eles vão embora, suaram muito para explicar de onde conseguiram o cheque. 6:00 horas da manhã, começa a chover uma chuva fria, eles procuram abrigo em um posto de gazolina ali próximo, uma senhora já de idade passa por eles e finge que não ve, mas anda alguns passos e talvez arrependida volta e da 10 reais para eles...e sem muito comentário diz apenas umas palavras meio sem nexo e se despede rapidamente. ''dez reais, vai dar para comer alguma coisa" pensa ela, mas logo ela se lembra que tem que comprar o moldes, e lá vão eles ate uma farmácia, os atendentes da farmácia os observa com uma expressão de medo, piedade ou nojo, sim eles percebem isso, o teatro tem dessas coisas se percebe muito no olho a olho, e se ve coisas que a cara não mostre muito menos o coração. Afinal sobrou alguns trocados eles vão ate a um mercado e compra uns pães e um pacotinho de leite, e na av. brasil, eles sentam no meio fio e lá fazem sua primeira refeição matinal. A saudade de casa é maior que o lamento da despedida mas tanto ela como ele sabem que quem vive nesta lida o mundo é a nova morada

Comentários

Postagens mais visitadas